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Comer, beber e ajoelhar

Esqueça o sushi e o sashimi. Abra bem a boca. Apure seu paladar.  Expanda a saliva com novos palatos. A culinária japonesa vai muita mais além do peixe cru e experimentar seus sabores nos milhares de restaurantes é mais uma forma de expandir os horizontes abertos em viagens de férias.

Em Tokyo, há opções para todos os gostos e bolsos. Fomos desde os indicados pelo guia do Japão escrito pelo sushiman paulistano, Jun Sakamoto, até as comidinhas compradas em barraquinhas nas ruas e templos da cidade. E seguindo a linha "turistas são bem-vindos por aqui", eles facilitam a vida mostrando, nas entradas dos restaurantes, mockups dos pratos feitos em plástico e mantendo fotos nos cardápios. Então não tem erro. É só apontar e comer.

Outro mito é que não se encontra os endereços dados. Mentira. Como o Google Maps e com a boa vontade dos japoneses, achamos tudo que procuramos mesmo estando escondido em andares dos edifícios. Tivemos até ajuda de um brasileiro que morava por lá. Uma outra questão é a reserva. Sempre funciona, mas acabamos indo direto a outros que nos atenderam super bem. Dica importante: eles jantam cedo. O serviço começa às 17h e vai no máximo até às 22h.

Jiro: reservas com pelo menos 3 meses de antecedência

Na ânsia da experimentar de tudo e do melhor, no nosso primeiro dia de Tokyo, partimos direto para o Sukiyabashi Jiro e claro,  temos com a cara na porta. O sushi mais famoso da cidade só trabalha com reservas feitas com pelo menos três meses de antecedência e pelo concierge do hotel. E não tem aquele jeitinho de esperar alguma desistência de última hora. Os dez sortudos diários estão sempre por lá.

Enguia do Nodaiwa: uma estrela Michelin

Da decepção, partimos para o ataque. Lá mesmo no mesmo prédio, começamos com um aperitivo de yakitori - os famosos espetinhos japoneses, no BirdLand, com uma estrela do Michelin e com opções de frango da melhor qualidade.Vizinho dali, entramos no Nodaiwa, também uma estrela do Michelin, fizemos o primeiro prato de unagui (enguia) servido em uma base de arroz. Não satisfeitos, encaramos ainda o menu degustação de sushis do Kyubey, do chef Yosuke Imada. Na nossa listinha, ele foi considerado o TOP 1.  Além da simpatia do chef, os sabores que experimentamos ali ainda nos faz salivar. Para garantir o frescor dos pratos,  ele traz, por exemplo, o camarão ainda vivo. Coloca o bichinho se mexendo na sua frente e sem dó, tira a cabeça. Limpa. Coloca um pouco de limão e sal e te serve sem pestanejar. As cabeças são frita depois servidas como chips. Os sushis são servidos prontos para comer e sempre o chef orienta se é necessário acrescentar shoyu ou não. E tem que ser uma bocada só. Assim, o sabor explode na boca.

O camarão ainda vivo para ser servido. Ao lado, a simpatia do Chef Imada que mantêm a quallidade do Kyubey.



No almoço do dia seguinte, fomos experimentar o soba, prato típico japonesa, que nada mais é do uma sopa com um macarrão feito de trigo sarraceno e depois as combinações são infinitas. Podem ser servidos com tempura, ovo, carne, pato, tofu. Provamos com tempura  no restaurante Komatsuan Souhonke. A graça aqui é que se deve comer imediatamente para manter o fresco no melhor estilo "A Dama e o Vagabundo", ou seja chupando os fios e fazendo barulho.

Os mockups para escolher os pratos sem erro

Na nossa volta a Tokyo, já tínhamos feito a reserva para o Kondo, o restaurante dois estrelas do Michelin, cuja especialidade é tempura. E aí o céu é o limite para a imaginação. Até começa com o tradicional camarão e depois partimos para uma sequência de peixes, ouriço, legumes como aspargo branco, folha de lotus e o grand finale com uma grossa fatia de batata doce que ficou no óleo - de pieixe,  diga-se de passagem, por 30 minutos.  O chef Kondo tem tanto domínio da técnica que ele empana o ingrediente, coloca para fritar e fecha os olhos para descansar.  No momento correto, ele retira e serve sem se preocupar com o óleo. É tão sequinho que coloca direto no balcão de madeira e não mancha e nem escorre.

A dupla Mirai e Kondo que nos serviram o melhor tempura do mundo

Saindo de Guinza, experimentamos o Banzaian Teppan Bar para provarmos o "churrasco" japonês. Feito na chapa, na frente do balcão, o chef Kenji Nomoto nos fez experimentar diversos tipos de carnes sendo a mais conhecida o wagyu beef. O sabor em nada lembra as carnes brasileiras ou argentinas. Elas possuem muita mais gordura interna e são marmorizadas. O atendimento é muito simpático e que nos fez sentir em casa foi a pizza servida como aperitivo. Esses japoneses sabem agradar um cliente :)


O chef Kenji Nomoto e sua grelha para assar as carnes

Por fim, a nossa última noite na cidade foi a pior em comida. Escolhemos aleatoriamente o Black Horse em Shinjuku.  Pedimos ajuda a um local que nos sugeiru um mix de carne e legumes que são grelhadas na mesa - tipo fondue. Tudo foi ruim...além de sair com o cabelo defumado.  Considerando o bairro,  não  podemos pensar que ali os restaurantes estão se importando com a comida e sim com bebidas e o fluxo de gente fazendo turismo sexual. 

Apesar da má experiência final, o frigir dos ovos, é que Tokyo é uma das melhores cidades do mundo para comer. Só prepare o bolso. O que é bom, custa caro :)


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