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Joanesburgo: porta de entrada da África do Sul

Não dá para dizer que conhecemos Joanesburgo. Na minha segunda visita a África do Sul, a cidade foi apenas a porta de chegada e saída de lá. Desta vez, fiquei por lá 24 horas e portanto, escolher muito bem os locais a serem visitados.

Para facilitar a locomoção, ficamos no hotel Da Vinci Hotel e Suites que está localizado ao lado do Mandela Square e do Sandton City, um dos maiores shoppings da cidade. Na praça, tem a estátua do famoso ex-presidente dançando. Foi a primeira estátua em homenagem ao ativista de direitos humanos e claro, não a única. Prepare-se para uma dose cavalar de Mandela. Por motivos mais do que justo, ele está espalhado em qualquer ponto do país dando nome a pontes, ruas, praças, museus, lojas, centro de convenções, prédios, etc.

E para entender e aprender um pouco sobre este mito e a terrível história do Apartheid, fizemos um tour que inclui a visita as casas dele como presidente e no Soweto e também ao Museu que tenta resgatar um dos mais terríveis movimentos de segregação racial que o mundo vivenciou.

Frente da casa onde  Mandela enquanto
ele era presidente


As pessoas deixam mensagens de paz
nas pedras da calçada


Vale explicar que ainda hoje a África do Sul é uma mistura de sabores, credos, etnias e línguas - são 11 idiomas oficiais. Então, imagina você separar tudo isso e agrupar cada um no seu quadrado. Evidentemente, a divisão entre brancos e negros era a mais vísivel e terrível ainda mais em uma região de pessoas predominamente de pele escura na sua origem. Mas tinha bairro de pardos, de judeus, de escravos, de imigrantes e por aí vai. Em 1948, o Partido Nacional, de minoria branca, foi eleito e no rastro do regime nazista fez a lambança que fez e demorou 50 anos para iniciar a mudança. Ainda hoje, mesmo depois de todo o movimento de Mandela para restituir a igualdade e reunificar os cidadões sulafricanos, os resquícios da discriminação racial ainda resistem. Na semana que estivemos por lá,  ocorreram vários protestos - alguns bastante violentos - com ataques xenofóbicos contra imigrantes da Ásia e de outros países do continente africano.

Foto que causou prisão de Mandela

Por isso, a visita ao Museu do Apartheid tem um caráter que vai além de um ponto turístico, mas que serve de alerta para evitarmos a todo custo governos radicais. Já na entrada, o bilhete divide, aleatoriamente, os visitantes entre brancos e não brancos e dependendo do que você pegar, entrará por uma porta ou por outra. Lá dentro, teremos contato por meio de filmes, fotos, textos e objetos, com bons recursos multimídia do que foi viver aquela época até a promulgação da nova constituição e do reestabelecimento dos pilares da liberdade, democracia, reconciliação e respeito. O caminho foi longo e passou por violência, injustiça, dialógos e finalmente a redenção, sempre tendo Mandela como um líder pacifista e buscando acima de tudo criar uma nação.

Outra parte desta história é contada nas ruas de Soweto. Considerada uma favela, só que bem longe da nossa visão de morro e arquitetura remendada, o bairro foi criado para abrigar a comunidade negra da África do Sul. Hoje, vivem por lá mais de 4 milhões de habitantes e a região tem hospitais, escolas, shoppings, restaurantes e muitas moradias fazendo parte da Grande Joanesburgo. Por lá, os pontos a serem visitados é a Casa de Nelson Mandela e o Museu Hector Pieterson, que leva o nome de um menino morto em conflito com a polícia, em um episódio conhecido como Levante de Soweto, de 1976.

Frente da casa de Mandela no Soweto que é aberta a visitação

Na ocasião, estudantes protestavam contra a qualidade do ensino e a obrigação de estudar africâner – a língua oficial e símbolo do Apartheid. A manifestação seguia pacífica, até policiais entrarem em choque com os estudantes e matarem centenas deles. Uma das vítimas, dentre mais de 700, foi exatamente o estudante Hector Pieterson, então, com 13 anos de idade.

Depois deste tour educativo, partimos para um jantar mais cool. O restaurante escolhido foi o Marble que tem em seu cardápio, os melhores grelhados da cidade. O chef David Higgs falava italiano e conhecia a chef brasileira Roberta Sudbrack, então a conversa e a escolha dos pratos foram bem fáceis, agradavéis e acima de tudo, saborosos. O lugar é lindo e fica no topo de um shopping com várias galerias de arte no bairro de Rosebank.



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