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Jericoacoara: não tem como não amá-la


Quem descobriu a beleza de Jeri foram os gringos. Em uma matéria na revista do Washington Post em 1987, a praia selvagem e refúgio de hippies ganhou holofotes e consequentemente, investidores que transformaram o idílico vilarejo em um dos points mais badalados do mundo.

E foi isso que encontrei na minha primeira visita a este paraíso na Terra. Esqueça o romantismo da luz a base de querosene, das pousadinhas simples e da comidinha caseira dos pescadores. A essência disto tudo ainda está lá devidamente preservada. Mas Jeri cresceu, se sofisticou e soube como Trancoso e Fernando de Noronha abocanhar aquele turista que quer a rusticidade, mas não abre mão do conforto.

Isso tudo torna o passeio caro? Sim e não. Para quem quer um esquema mais econômico, com hotéis mais em conta, restaurantes a quilo ou lanches rápidos, forró na praça vai encontrar também. Quem tem bala na agulha para se hospedar em pousadas luxuosas e exclusivas como a Essenza e curtir a festas exclusivas também tem. E tem a turma onde me encaixo que prefere um meio termo: um bom hotel como o Vila Kalango, desfrutar da boa mesa e até arriscar uma pizza feita por um legítimo italiano. Aliás, os italianos simplesmente se apossaram do pedaço e estão por toda a parte. Talvez também seja uma pista do charme e do bom gosto que se vê nas lojinhas, restaurantes e acomodações em geral. Falando em comida italiana, experimentamos os pratos do Na Casa Dela e a pizza da Pousada Araxá.

A melhor época de visitar Jeri é de julho a dezembro quando terminou o período de chuvas e o vento sopra a mil para quem procura suas praias para a prática de kitesurf. Pois lá venta e não aquela brisinha para resfrescar no fim de tarde não. É aquele ventão gostoso que mal faz você sentir calor e então, redobre a atenção com o protetor solar porque a sensação térmica pode ser agradável só que o sol está lá, inclemente.

Mas vamos começar do começo. Chegar lá! Quando os voos estiverem regulares, sem dúvida nenhuma, a melhor opção é o avião mesmo. O Aeroporto fica a 30 km e você pode pegar um transfer direto para seu hotel privado ou compartilhado e nem pense em alugar carro.  O carro só serve para fazer os trajetos entre os estados como fiz se a ideia é conhecer outros pontos turísticos do Brasil e o melhor lugar de deixá-lo é em Jijoca e seguir de lá com um 4 x 4 até a vila. 

Para entrar em Jeri tem que pagar a taxa de turismo sustentável que custa 5 reais por dia por pessoa. Faça isso antes para evitar a fila na chegada. Mesmo que tenha alugado uma Hilux, terá que contratar um guia para te levar o estacionamento na entrada. Custa mais caro e não é coberto.  E nem pense em ir em carro de passeios. Vimos muito atolados por lá e os guias cobram para ajudar a sair da encrenca. Então, use o bom senso e pense que neste caso, o barato sai caro. Contrate os serviços locais que são abundantes. A cooperativa conta com 1200 guias, 600 buggies e 300 caminhonetes.

São duas rotas básicas: leste e oeste. Ficamos três dias e optamos por mais um passeio no Buraco Azul e um almoço espetacular na Casa B&B.

Vista da Pedra Furada

O dia para o leste começou com uma cavalgada pela praia até a Pedra Furada. Para chegar bem perto, tem uma caminhada em terreno pedregoso. Vá de chinelos (veja lista de perrengues aqui). Com o carro, siga para a Praia do Preá, onde existe a maior concentração de kites do mundo; faça uma parada para a foto na árvore da Preguiça e para o almoço, a opção é em Barrinha. O restaurante Komaki é pé na areia, muito charmoso e intimista. O cardápio bem variado, com frutos do mar, carnes e aves, mas o polvo e a lagosta se destacam. Na volta, se refresque na Lagoa Azul em Jijoca ou passe a tarde no The Alchymist Beach Club que faz parte de um grupo italiano. O CEO, Giorgio Bonelli, anunciou um investimento de mais de 200 milhões de reais para a construção de uma megaemprendimento nos arredores com, hotel, auditório e uma mega piscina de 5000 metros quadradas.

Do lado contrário, o passeio começa com a balsa do Rio Guriú e a visita a colônia de cavalos-marinhos. É meio "artificial". O pescador te leva em uma das margens do manguezais e com um vidro pega um  deles para os turistas tirar foto, mas vale conhecer assim tão de perto. A parada seguinte é um local mais instagramavél da viagem: o mangue seco. Os moradores de água e cerveja precisavam de uma atração para que as pessoas parassem por ali e não apenas passassem com os carros. Assim, começaram a enfeitar as árvores com flores, montarem balanços, espalharem corações. Resultado: gasta-se pelo menos uma hora aí até fazer todas as poses e as vendas aumentaram consideralvemente. É o tipo de atração "plantada" que virou ponto obrigatório. 

Seguindo se curte um pouco de emoção é hora de ir para a Lagoa da Tirolesa se jogar pelo ar ou pelo escorregador de água com uma prancha de bodyboard. E para descansar, a sugestão são as redes ao longo da Lagoa Tabajuba.  Preferimos retornar as margens do Rio Guriú  e almoçar na Casa Uca um beach lounge/restaurante que faz parte de uma pousada descolada. 

Locais de foto em Mangue Seco

O fim de dia é sempre dedicado ao pôr do sol e o melhor lugar é a duna que fica bem pertinho do hotel que nos hospedamos, a Vila Kalango. A placa do Parque Nacional de Jericoacoara avisa: “a Duna do Pôr do Sol possui 500 anos aproximadamente e vem andando de 10 a 20 metros por ano à medida que o vento sopra as partículas de areia", por isso vá antes que acabe. Em qualquer lugar que se escolha, o espetáculo é único pois o astro rei se despede do dia pelo mar sempre por volta das 17h30.

Se tiver mais um tempinho, visite o Buraco Azul. O lugar é lindo e a estória pitoresca. O dono ficou com o terreno em um processo de divórcio. Para a construção da estrada até Preá, foram usadas as pedras no aterro e o buraco começou a ser formado. Com solo de calcário, na primeira chuva a cor azul já aparecia. Quando a temporada de inverno acabou, o dono ganhou um poço de petróleo no setor de turismo. Cobra 10 reais de entrada e chega a reeber 10 mil pessoas por dia em um fim de semana movimentado. No seu interior, bebidas e petiscos reforçam o lucro.

Por fim e não menos importante, vale ressaltar que o Vila Kalango é um baita hotel. Além da beleza do jardim com coqueiros centenários, os quartos são bem decorados e o mais importante: o atendimento é nota mil. A equipe é muito bem treinada, simpática e faz de tudo para se sentir em casa. Ah! em tempos de coronavírus, todos as recomendações de prevenção são seguidas à risca. Quem saber mais sobre como viajar neste período pós quarentena? Leia aqui!

Detalhe da entrada do quarto do Vila Kalango






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